É uma sensação estranha...
Como que acordarmos do lado
de cá de um muro alto, sem porta, sem retorno, indestrutível, sabendo que nunca
mais voltaremos ao lado de lá. E tu ficaste no lado de lá. E eu não sei o que
fazer com isso.
Sei o que se quebrou. Sei o que morreu. Sei o que me adormeceu.
Sei que a sensação de perda ao acordar é imensa, misturada com a frustração de
agora te saber irreal. O tu que eu admirava, pelo menos. Deixaste morrer a
magia de uma forma tão cruel que me pergunto se a vias como eu. Sei que a vias,
porque o teu egoísmo levou-te a fechá-la numa redoma, intocável, imutável, sem
lhe dar capacidade de crescer, de se transformar. O teu medo de a perder
atrofiou-a. E, atrofiada, morreu. Mas não a vias como eu.
Mataste-nos. O que
tanto querias preservar, morreu nas tuas mãos, a definhar de fome. De um
alimento que lhe recusaste. E eu... acordei de um sonho. Lindo. Único. Acabado.
Não sei
como vai ser agora. Só sei que ficou o vazio.
Do lado de cá do muro.
SdS
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